Peninha: um homem afirmativo: folclorista no singular, museólogo no plural, historiador no social
“Ser encantado e de grande sabedoria
Avoa por toda a Ilha
Numa linda canção
Para fazer tudo o que é bom
Trazer à tona a nossa história, a nossa memória
A nossa tradição”
Hoje tem festa no céu das Bruxas que velam pela nossa ilha. E, tem despedida na Ilha da Magia.
Gelci José Coelho, nos deixou hoje ((10/08/1949 -16/03/2023). O museólogo, conhecido por Peninha, amigo de Franklin Cascaes, foi um grande personagem da história de Floripa.
Fez perpetuar a ideologia Cascaes sobre a Ilha da Magia. Pautou a sua vida a defender as histórias do grande flanerie que foi o seu mentor – além de preservar as histórias.
Fez perpetuar a história popular – o nosso embruxamento.
Ele sobretudo, contesta os que interpretam as bruxas de Desterro como uma figura medonha.
“Isso é apenas para enganar, pois elas são formosíssimas, e geralmente as morenas de olhos verdes são suspeitas, mas que não podem se identificar porque poderiam perder o fado”.
A nossa abastança folclórica é produto das pesquisas realizadas por Cascaes, que nos anos 70, Cascaes defendia que a essência da ilha estava se perdendo e que a sua cultura estava embruxada.
E, Peninha perpetuou o seu legado, “porque na minha terra as autoridades são culturalmente surdas; ninguém até hoje sonha em atender ao meu apelo cultural”, revelou Cascaes ao seu amigo.
Peninha dedicou a vida em manter vivo o legado de Cascaes, este que sempre amou as histórias populares e a vida popular, suas histórias reconstruíram a história e o misticismo da Ilha, vão das danças dos bichos, boitatás, procissão de Nosso Senhor Jesus dos Passos.
Aos segredos e peculiaridades dos pescadores, as feiticeiras, boi de mamão, benzedura, a arte das rendeiras e a dezenas de atrativos do cenário cultural.
Para eles a Ilha não é apenas um pedacinho de terra perdido no mar, esta que foi a Meiembipe dos Carijós, a décima Ilha do Arquipélago dos Açores e A Nsa. Sra. do Desterro de Dias Velho.
Hoje é a Florianópolis, que tem atrelada ao seu nome o adjetivo de qualidade de vida, visitada pelo mundo inteiro esse paraíso muito bem localizado no litoral brasileiro, não é composta somente por belas praias e paisagens.
Tem a sua história construída pelas mãos que produziam as artes rupestres, a cerâmica, as mais belas rendas, as tarrafas para a pesca e que preparavam a terra para a produção da farinha.
E, que esse legado permaneça e que possamos fazer valer cada uma destas heranças que nos foram deixadas.
Termino este texto com um poema escrito por ele.
Oração das bruxas
Por Gelci José Coelho
Com o signo de Salomão
Eu te benzo com a vela benta
Na Sexta-Feira da Paixão
Treze raios tem o Sol
Treze raios tem a Lua
Salta demonho pro inferno
Que essa alma não é tua
Tosca marosca
Rabo de rosca
Novelo na tua mão
Relho na tua bunda
Aguilhão nos teus pés
Por debaixo do silvado e
Por cima do telhado
Em nome de São Pedro
São Paulo e
São Fontista
Por dentro da casa São João Batista
Bruxa Tatarabruxa
Ser encantado e de grande sabedoria
Avoa por toda a Ilha
Numa linda canção
Para fazer tudo o que é bom
Trazer à tona a nossa história, a nossa memória
A nossa tradição
Bruxa tatarabruxa, venha dançar
Nesse Grande Baile Místico
Com todas as pessoas reunidas
Venha brincar, cantar, dançar e se divertir
Venham viver as maravilhas da nossa herança cultural
Voando com toda elegância
Para a linda festa que vai contar
Muito da história da nossa gente
Por todos os santos dos santos
Amém